Olhem para frente porque é pra frente que é preciso caminhar
Lá está o que a gente precisa e deve alcançar
Olhem para trás para admirar o que já foi feito
E não para lamentar aonde os outros permanecem!
Cantar
Desnudar-se diante da vida
Cantar é vestir-se com a voz que se tem
Achar o tom da alegria perdida
E não ter que explicar pra ninguém
A razão desta tal melodia
Encharcada de sorriso de pranto
No cantar a lembrança se cria
E envelhece de repente
Vai solta no ar
Por isso eu canto
Canto para amenizar
Grande dor que me traz
O sorriso de alguém
Se a minha escola querida
Cruzar a avenida
Eu canto também
No canto
Vou jogando a minha vida pra você
Por isso fecho os olhos pra não ver
Eita, quando a esperança chega é bom demais né!
Parece que começamos a notar até a nossa respiração
O sol brilha mais forte
Até o cheiro do mato podemos sentir
Passamos a admirar as paisagens
Montanhas e vales
Rios e aves
As cores... Ah as cores!
Deus é mesmo muito generoso com a gente viu
Ataulfo Alves de Sousa era um dos sete filhos
do Capitão Severino, violeiro, sanfoneiro e repentista da Zona da Mata, nasceu
em 2 de maio de 1909 na Fazenda Cachoeira, propriedade dos Alves Pereira, no
município de Miraí, MG.
Com oito
anos, jáfazia versos,
respondendo aos improvisos do pai. Com a morte deste, a família teve de se
mudar para a cidade, onde aos dez anos começou a ajudar a mãe no sustento da
casa: foi leiteiro, condutor de bois, carregador de malas na estação, menino de
recados, marceneiro, engraxate e lavrador, ao mesmo tempo em que estudava no
Grupo Escolar Dr. Justino Pereira. Aos 18 anos, aceitou o convite do Dr. Afrânio
Moreira Resende, medico de Miraí, para acompanhá-lo ao Rio de Janeiro, onde
fixaria residência. Durante o dia, trabalhava no consultório, entregando
recados e receitas, e, a noite, fazia limpeza e outros serviços domésticos na
casa do médico. Insatisfeito com a situação, conseguiu uma vaga de lavador de
vidros na Farmácia e Drogaria do Povo. Rapidamente aprendeu a lidar com as
drogas e tornou-se prático de farmácia. Depois do trabalho voltava para casa no
bairro de Rio Comprido, onde costumava freqüentar rodas de samba. Já sabia
tocar violão, cavaquinho e bandolim, e organizou um conjunto que animava as
festas do bairro.
Em 1928,
com apenas 19 anos, casou-se com Judite. Nessa época, em que jácomeçara a compor, tornou-se diretor
de harmonia de Fale Quem Quiser, bloco organizado pelo pessoal do bairro. Em
1933, Bide, que viriaa
fazer sucesso com o sambaAgora
e cinza(com Marçal), ouviu
algumas composições suas no Rio Comprido, e resolveu apresentá-lo a Mr. Evans,
diretor americano da Victor. Foi então que Almirante gravou o sambaSexta-feira,sua primeira composição a ser lançada
em disco. Dias depois, Carmen Miranda, que ele havia conhecido antes de ser
cantora, gravouTempo
perdido,garantindo sua
entrada no mundo artístico. Em 1935, através de Almirante e Bide, conseguiu seu
primeiro sucesso comSaudade
do meu barracão,gravado por
Floriano Belham. Seu nome cresceu muito quando apareceram as gravações do sambaSaudade dela,em 1936, por Silvio Caldas e da valsaA você(com Aldo Cabral) e do sambaQuanta tristeza(com André Filho), em 1937, por Carlos
Galhardo, que se tornaria um dos seus grandes divulgadores. Passoua compor com Bide, Claudionor
Cruz, João Bastos Filho e Wilson Batista, com quem venceu os Carnavais de 1940
e 1941, comOh!, seu
OscareO Bonde de São Januário.
Em 1938,
Orlando Silva, outro grande interprete de suas musicas, gravouErrei, erramos.Em 1941, fez sua primeira experiência
como intérprete, gravando seus sambasLeva,
meu samba...eAlegria na casa de pobre(com Abel Neto). Em 1942 a situação
financeira difícil e a hesitação dos cantores em gravar sua ultima composição
fizeram com que ele próprio lançasse, para o Carnaval do ano,Ai, que saudades da Amélia;gravado com acompanhamento do grupo
Academia do Samba e abertura de Jacódo
Bandolim, o samba, feito a partir de três quadras apresentadas por Mário Lago
para serem musicadas, resultou em grande sucesso popular. Juntos fizeram aindaAtire a primeira pedra,para o Carnaval de 1944, e em 1945
lançaramCapachoePra
que mais felicidade.
Resolvido
a continuar interpretando suas músicas, juntou-se a um grupo de cantoras,
organizando um conjunto que, por sugestão de Pedro Caetano, foi chamado de
Ataulfo Alves e suas Pastoras. Inicialmente formado por Olga, Marilu e Alda.
Representativas da década de 1950, quando faziam sucesso musicas de fossa e de
amores infelizes, são suas composiçõesFim de comediaeErrei,
sim,gravadas por Dalva de
Oliveira. Em 1954 participou do showO
Samba nasce no coração,realizado
na boate Casablanca, quando lançou o sambaPoisé... O pintor Pancetti gostou
muito da musica e, inspirado nela, fez um quadro com o mesmo nome, que ofereceu
ao compositor. Compôs entãoLagoa
serena(com J. Batista),
dedicando-a a Pancetti, que, novamente, o homenageou com a telaLagoa serena.
Convidado
por Humberto Teixeira, em 1961 participou de uma caravana de divulgação da
musica popular brasileira na Europa, para onde levouMulata assanhada e Na
cadência do samba(com Paulo
Gesta), que acabara de lançar. Retornou no mesmo ano e fundoua ATA (Ataulfo Alves Edições),
tonando-se editor de suas musicas. Por essa época, desligou-se de suas pastoras
– na ocasião Nadir, Antonina,Geralda
e Geraldina –, passando a se apresentar sozinho, esporadicamente.
Depois de
realizar em 1964 uma temporada no Top Club, do Rio de Janeiro, como sentisse
piorar a úlcera no duodeno, em 1965 decidiu passar o seu titulo de General do
Samba para seu filho, Ataulfo Alves Júnior. Em decorrência do agravamento da
úlcera, morreu após uma intervenção cirúrgica, no Rio de Janeiro em 20 de abril
de 1969.